sábado, 31 de dezembro de 2011

CRISTO ELOGIA A SUA IGREJA

Leitura Bíblica: Cântico dos Cânticos, 6:4-7:9

Introdução 

Estes versículos são as palavras de Cristo, nas quais Ele procura elogiar as virtudes da sua Igreja. Devemos lembrar do contexto desta admiração. A Igreja passara por um tempo de indolência espiritual, negligenciando a leitura diária das Escrituras Sagradas e a oração perseverante. Cristo, em seu grande amor para com ela, veio batendo e pedindo um reencontro com a sua Igreja. Ela demorou tanto para atendê-lo que Cristo se afastou dela, temporariamente. Quando a Igreja finalmente se levantou para abrir-lhe a porta, “ele se retirara e tinha ido embora”. Com isto, a Igreja caiu em si e passou a sentir a dor de uma comunhão perdida. Ela o chamou, mas Ele não respondeu. Agora, com toda diligência, ela se dispôs a buscar o Amado de sua alma; perguntou aos pastores, mas estes, em vez de a ajudarem, espancaram-na e a feriram. Finalmente, ela encontrou com as “filhas de Jerusalém” que, vendo a sua aflição espiritual, perguntaram-lhe: “Que é o teu amado mais do que outro amado?” Com esta pergunta, a Igreja se sentiu desafiada a defender a superioridade incomparável de Seu Amado. E seguiu-se um testemunho exaltando a singularidade de Cristo. Durante todas estas circunstâncias, Cristo estava silenciosamente presente. Ele ficou comovido com a eloqüência do testemunho da sua Igreja, por isso, manifestou-se a ela e disse-lhe: “Formosa és, querida minha”.

1. As Comunicações Amorosas de Cristo, 6:4-13. 

Quando Cristo se afasta, um silêncio espiritual prevalece no meio da Igreja. Ora, o caminho para restabelecer a comunhão é seguir os meios da graça: a leitura diária da Bíblia, a prática da oração, e, como a Igreja fez neste contexto, testemunhar da superioridade de Cristo. Com estas atividades em plena evidência, Cristo vai se aproximar para falar ao coração de seu povo. E, em nosso texto, depois daquele tempo de silêncio, Cristo, de repente, e, sem qualquer apresentação, começa a falar, restabelecendo, assim, a comunhão espiritual com a sua Igreja.

a) Cristo declara o seu amor, Vs.4-5a. Ele escolheu quatro frases para reafirmar o seu amor para com a sua Igreja. 1) “Formosa és, querida minha, como Tirza”. Esta era uma cidade admirada por sua beleza e onde os reis construíam seus palácios. A Igreja é semelhantemente bela, e é onde Cristo reina. “Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder; com santos ornamentos (o fruto do Espírito Santo), como o orvalho emergindo da aurora, serão os teus jovens” Sl.110:3. Parte da beleza da Igreja é o seu aspecto juvenil, porque o Senhor está constantemente renovando as suas forças, Is.40:29-31. 2) “Aprazível como Jerusalém”. Esta cidade, além de ser a principal em Judá, era o centro da vida religiosa do povo. “Seu santo monte, belo e sobranceiro, é a alegria de toda a terra” Sl.48:2. A Igreja irradia a sua aprazibilidade através do culto bíblico que oferece a Deus. Por isso, o Salmista confessou: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” Sl.122:1. Cristo disse: “E sereis as minhas testemunhas” At.1:8. A Igreja é “aprazível” por causa da sua mensagem de esperança e salvação. O Profeta, comentando sobre este aprazimento, disse: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia boas-novas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina” Is.52:7. 3) “Formidável como um exército com bandeiras”. Um exército em desfile, balançando as suas bandeiras, é uma cena de poder e imponência. O Ap. Paulo, ao se lembrar da Igreja em Colossos, escreveu: “Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em Espírito, estou convosco, alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo” Cl.2:5. A Igreja, como um exército, vestida de toda a armadura de Deus, em posição ofensiva e conquistando novos povos com o evangelho, é igualmente uma cena formidável. Contudo, um exército, como também a Igreja, não fica somente em desfile, manifestando o seu poder e imponência; ele tem que se desmembrar e cada indivíduo tem que gladiar com o inimigo e esmagá-lo debaixo de seus pés, Rm.16:20. Talvez alguém pergunte: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” 2 Co.2:16. Devemos confiar na resistência da armadura que Deus tem nos dado. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas” 2 Co.10:4. Sabendo que a Igreja é composta de membros particulares, cada um tem que assumir a sua responsabilidade individual. O Apóstolo deu esta direção: “Participa dos meus sofrimentos como um bom soldado de Jesus Cristo. Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer aquele que o arregimentou” 2 Tm.2:3-4. Servindo assim, poderemos chegar ao dia final, confessando: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” 2 Tm.4:7. 4) “Desvia de mim os olhos, porque eles me perturbam”. Cristo não está pedindo que a Igreja retire o seu olhar, ao contrário, Ele usa a forma negativa para enfatizar o seu prazer em sentir os olhos da sua Igreja fixos nele, com fé e esperança. Temos uma expressão semelhante quando Deus pede a Moisés: “Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles o meu furor”. Dt.32:10. Deus não podia destruir o seu povo escolhido e ser acusado de mentiroso quanto à veracidade de suas promessas. Por isso, usando a forma negativa, Ele estava elogiando a intercessão e o zelo pastoral de seu servo. Jesus também usou esta forma negativa para elogiar a fé da mulher Cananéia. No início, foram palavras negativas, mas, na verdade, Jesus estava ansioso para conceder-lhe a cura. Contudo, a mulher não acreditou na “má vontade” de Jesus, por isso, continuou insistindo. Finalmente, vendo a fé e a esperança desta mulher, Jesus lhe disse: “Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã” Mt.15:28. A Igreja expressa sua fé e esperança olhando firmemente para Jesus, o Autor e consumador da sua confiança, porque sabe que Ele está pronto para suprir cada uma de suas necessidades, Fl.4:19. Ah se pudéssemos “perturbar” o Senhor Jesus com a intensidade da nossa fé, não o deixando ir embora sem nos conceder a bênção! Gn.32:26. 

b) Cristo reafirma o seu amor, Vs.5b-7. “Os teus cabelos descem ondeantes como o rebanho das cabras de Gileade. São os teus dentes como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma delas sem crias. As tuas faces, como romã partida, brilham através do véu”. Estes versículos são uma repetição do que Cristo disse no Capítulo 4:1-3, portanto, não há necessidade de mais explicações. Contudo, surge uma pergunta: Por que Cristo está repetindo as mesmas palavras de admiração? Há pouco tempo atrás, a Igreja tinha caído no pecado, permitindo que um período de indolência espiritual interrompesse a sua comunhão com Cristo. Apesar de acreditar que o pecado é perdoado, há uma tendência de duvidar da constância do amor de Cristo. Depois da minha negligência, será que Cristo ainda me ama como antes? Sem dúvida alguma, seu amor é o mesmo; e, para confirmar a sua constância, Ele repete as mesmas palavras que tinha usado na sua declaração de amor inicial (antes do pecado). Seu amor é incondicional e, apesar dos nossos lapsos ocasionais, seu amor não vacila. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” Jo.13:1. As repetições de palavras têm grande valor para nós. O Ap. Paulo confessou: “A mim, não me desgosta, e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas” Fl.3:1. 

c) A singularidade da Igreja, Vs.8-9. Nestes versículos, Cristo faz uma comparação entre as classes das pessoas deste mundo e a singularidade da sua Igreja. Existem as rainhas, a liderança, as concubinas, as salariadas, as virgens, as serviçais na comunidade, cada uma com a sua contribuição específica, v.8. Depois de contemplar as pessoas deste mundo, e o valor de cada uma, Cristo confessa: “Mas uma só é a minha pomba, a minha imaculada” V.9a. Todos os reinos deste mundo e a glória deles são nada aos olhos de Cristo, quando comparados com a sua Igreja.

I) A unicidade da Igreja. Cristo não tem outras queridas, a Igreja é a sua única. Ele não tem nenhum outro de igual estima. Por quê? Toda a obra redentora de Cristo foi dirigida para um só fim: adquirir para si mesmo um povo exclusivamente seu. “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” Ef.5:25-27. Apesar de ainda viver neste mundo, a Igreja não se conforma com este século, Rm.12:2. Cristo afirmou: “Eles não são deste mundo, como também eu não sou” Jo.17:16. 

II) A nascença da Igreja. O nosso texto, falando da Igreja, diz: “De sua mãe, a única, a predileta daquela que a deu a luz” V.9b. Existem duas Jerusaléns, ambas com seus respectivos filhos. O Ap. Paulo usou estas figuras a fim de descrever o estado espiritual das pessoas deste mundo: “A Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos”. Apesar de ser o centro religioso, seus filhos ainda não chegaram ao conhecimento da verdade. “Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é a nossa mãe” Gl.4:25-26. A Jerusalém celestial é que deu à luz a Igreja, porque, daquele lugar, Deus administra todos os seus propósitos salvíficos. Desde a fundação do mundo, Deus tem seus escolhidos, aqueles que Cristo veio buscar e salvar. Por isso, Ele garantiu: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” Jo.6:37. Qual foi o efeito destas verdades sobre as pessoas deste mundo? 

III) As exclamações das pessoas seculares. Como uma cidade edificada sobre um monte, é impossível esconder a presença da Igreja e ocultar o seu estilo santo e irrepreensível de vida, Mt.5:14. O nosso texto confirma esta realidade: “Viram-na as donzelas e lhe chamaram ditosa; viram-na as rainhas e as concubinas e a louvaram” V.9c. Feliz a Igreja que recebe a admiração positiva das pessoas ao seu redor, por causa de seu testemunho imaculado. Todavia, reconhecemos que isso nem sempre é tão fácil. Por isso, o Ap. Pedro escreveu: “Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus” 1 Pe.2:20. O que importa é que sejamos achados fiéis.

d) Uma pergunta retórica. “Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, pura como o sol, formidável como um exército com bandeiras?” V.10 Cristo fez esta pergunta para que Ele mesmo pudesse dar a devida explanação. Notemos as quatro figuras que Ele usa para descrever a aparência da Igreja neste mundo, de acordo com as diferentes intensidades de brilho. 1) A alva do dia. Ela é como luz emergindo de uma noite de trevas. Como os tessalonicenses, ela está deixando os ídolos e as vaidades deste mundo para servir o Deus vivo e verdadeiro, 1 Ts.1:9. Algumas partes da Igreja são mais vagarosas nesta emersão espiritual. Por isso, o Apóstolo exorta: “Vai alta a noite, e chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” Rm.13:12.  2) Formosa como a lua. De todas as luzes da noite, a lua cheia é a que se destaca mais. A Igreja resplandece como “luzeiros no mundo” Fl.2:15. A lua sempre se move em direção ao dia, dando lugar para a luz maior. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” Pv.4:18. É o processo de crescer na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, 2 Pe.3:18. A exortação é esta: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” Os.6:3.  3) Pura como o sol. Este é o alvo na vida cristã, “a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” Ef.4:12-14. Alcançamos esta maturidade espiritual pelo estudo e prática da Palavra de Deus. “Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” Hb.5:13-14.   4)Formidável como um exército com bandeiras. Novamente, a Igreja, como um exército com bandeiras, desfilando diante dos olhos de todos, é uma cena formidável. Por que a Igreja tem esta imponência? Porque ela é a coluna e o baluarte da verdade, 1 Tm.3:15. A vitória da Igreja em todas as suas batalhas é possível por causa da sua união vital com o Capitão da sua salvação. A Igreja ora e pede intrepidez em seu serviço, e a resposta se manifesta através da plenitude do Espírito Santo e, “com intrepidez anunciam a palavra de Deus” At.4:29-31. Que cada um de nós, como soldados ativos neste exército espiritual, sejamos achados fiéis no desempenho do nosso respectivo ministério, “sabendo, que, no Senhor, o nosso trabalho não é vão” 1 Co.15:58. 

e) Cristo explica a sua retirada, Vs.11-13. Embora Cristo esteja agora em plena comunhão com a sua Igreja, Ele sente a necessidade de explicar o que fez enquanto estava afastado dela. 1) O lugar onde Cristo ficou, V.11. “Desci ao jardim das nogueiras, para mirar os renovos do vale, para ver se brotavam as vides, se floresciam as romeiras”. Ele desceu para contemplar, silenciosamente, os trabalhos realizados na Igreja. Lá existe toda sorte de pessoas em fases diferentes de desenvolvimento. Ele está sempre interessado em verificar o progresso espiritual de cada membro. A transformação que acontece na conversão do pecador merece a admiração de todos. “A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga” Mc.4:28. O progresso, desde o primeiro sinal de uma erva frágil, até o grão cheio, leva um bom tempo. Mas este crescimento é evidência da atividade da obra poderosa da graça de Deus. De fato, “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” Fl.1:6. Vamos sempre lembrar que Cristo nunca está longe da sua Igreja. Ele anda no meio do seu povo, observando e estimulando o seu progresso espiritual, por isso, Ele pode falar com toda certeza: “Conheço as tuas obras” Ap.2:2. Conhece cada aspecto da nossa vida; sabe se estamos realmente crescendo na graça e no conhecimento, doutrina e disciplina cristã. 2) O retorno de Cristo, V.12. Talvez a Igreja estivesse pensando: Por qual motivo o meu Amado se manifestou tão de repente? Ele mesmo responde: “Não sei como, imaginei-me no carro do meu nobre povo” - correndo com toda pressa para desfrutar de uma comunhão sensível com o meu povo. Quando Cristo ouviu aquele testemunho eloqüente da sua Igreja, exaltado a sua Pessoa, ficou comovido e resolveu: Não posso mais ficar calado, o meu povo precisa ouvir a minha voz. Apesar de sentirmos, de vez em quando, estas “supostas ausências” quando clamamos e não recebemos uma resposta imediata, não devemos ficar desanimados, porque, segundo a sua promessa, Ele não está longe. Devemos cultivar a disposição do Salmista: “Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra” Sl.130:5. Esta palavra na qual esperamos é a promessa da presença de Cristo: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” Mt.28:20. Ele nos ouvirá quando clamarmos a Ele, e, enquanto aguardarmos a sua resposta, não devemos ficar inativos, ao contrário, devemos nos envolver em seu serviço, testemunhando da sua fidelidade. 3) O apelo de Cristo, V.13a. Talvez Cristo esteja sentindo que a Igreja está revelando uma certa timidez por causa da indolência ingrata que praticara há pouco. Por isso, Cristo faz questão de manifestar a sua condescendência perdoadora, convidando-a: “Volta, volta, ó sulamita, volta, volta, para que nós te contemplemos”. Cristo é a propiciação pelos nossos pecados. O seu sangue é eficaz para encobrir todos os nossos pecados. Esta verdade deve ser sempre a base da nossa confiança. No Novo Testamento, Cristo fez muitos convites semelhantes. “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” Jo.6:35. Qual a razão deste convite para que a Igreja se apresente? “Para que nós te contemplemos”. “Nós”, representa Cristo e as milícias celestiais, pois a Igreja, redimida, regenerada e santificada tem uma beleza que manifesta a glória do poder da graça de Deus. 4) A pergunta de Cristo, V.13b. Novamente, Cristo sente que a Igreja está perguntando: “Por que quereis contemplar a sulamita na dança de Maanaim?” Gn.32:1-2. Possivelmente, esta dança referia a uma festa de compromissos. Os que dançavam estavam comprometidos um com o outro. Aqui, Cristo está contemplando a sua Igreja que, sentada à parte, aguarda a chegada do seu Amado, pois o compromisso dela é com um só. Cristo logo se aproximou e a tomou pela mão para, juntos, desfrutarem de uma comunhão espiritual. Neste tempo, a sós, Cristo confessou a sua admiração por sua Igreja, como podemos entender nas palavras que se seguem.

2. Cristo Elogia as Partes da Sua Igreja, 7:1-5. 

Quando a Igreja deu seu testemunho falando sobre a superioridade de seu Amado, ela escolheu dez partes do corpo de Cristo para descrever as suas perfeições. Aqui, Cristo, por sua vez, também escolheu dez partes do corpo humano para elogiar as excelências da sua Igreja. Convém lembrar que estamos lidando com uma linguagem poética e alegórica.

(1) A primeira parte do corpo humano que recebe destaque são os pés. “Que formosos são os teus passos dados de sandálias, ó filha do príncipe” V.1a. Cristo está sempre atento para observar a maneira pela qual o seu povo anda. Sabendo disto, o Salmista orava: “Firma os meus passos na tua palavra, e não me domine iniqüidade alguma” Sl.119:133. O grande objetivo do cristão é vigiar, para que não contamine as suas vestiduras, a fim de poder andar com Cristo, Ap.3:4. Aqui, a Igreja está andando com os “pés nos sapatos”, um sinal de dignidade. Andar descalço era sinal de tristeza e degradação. Os presos, para serem humilhados, eram obrigados a andar “despidos e descalços” Is.20:4. Davi, fugindo de Absalão, saiu de Jerusalém chorando e andando descalço, a fim de manifestar a sua humilhação, 2 Sm.15:30. Mas a Igreja não está triste e nem andando descalça, porque ela é “filha do príncipe”, e está com os “pés nos sapatos” (versão corrigida), andando de modo digno da vocação a que foi chamada, Ef.4:1. Os sapatos que a Igreja usa são especiais, porque são parte da “armadura de Deus”. Ela é exortada: “Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz” Ef.6:15. A Igreja tem a paz de Deus reinando em seu próprio coração, e, por causa disto, tem o direito de proclamar o “evangelho da paz”. Esta mensagem ensina como o pecador pode ser perdoado e justificado, a fim de experimentar a paz com Deus em seu coração, Rm.5:1. A Igreja é despenseira dos mistérios de Deus. “Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel” 1 Co.4:1-2.

Notemos agora o título que a Igreja recebe. Ela é a “filha do príncipe”. Em Salmo 45:13, ela é chamada “a filha do Rei”. O Ap. Pedro descreveu a Igreja como um “sacerdócio real”, 1 Pe.2:9. Como podemos justificar esses títulos de realeza? Todos aqueles que recebem Cristo como Salvador, recebem o poder de serem feitos filhos de Deus, Jo.1:12. Ele mesmo promete: “E eu vos receberei, serei o vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso” 2 Co.6:17-18. Temos esta realeza por causa do novo nascimento. Somos nascidos lá do alto, nascidos de Deus; somos feitura dele segundo a imagem do Rei dos reis e guiados pelo Espírito Santo. Embora sejamos plebeus e desprezíveis, fomos feitos “filhos do príncipe” em virtude da nossa união vital com Cristo. Este título é dado para nos encorajar e para que compreendamos melhor a “soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”, e para nos constranger a viver de modo digno do Senhor, “para seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus” Fl.3:14; Cl.1:10.

(2) “Os meneios dos teus quadris são como colares trabalhados por mãos de artista” V.1b. Cada parte do corpo tem seu valor especial. Os quadris, por causa da sua flexibilidade, dão estabilidade e direção decidida para os pés. O Salmista exclamou: “Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra” Sl.139:14-15. O Ap. Paulo, ao observar as partes da Igreja de Cristo, falou do “auxílio de toda junta segundo a justa cooperação de cada parte” Ef.4:16. Quando os quadris têm uma falha, os pés não conseguem caminhar numa linha reta. Cristo elogiou os meneios da Igreja porque não andava “segundo a carne, mas segundo o Espírito” Rm.8:4. O Salmista fazia esta oração: “Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça, pois em ti confio; mostra-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a minha alma” Sl.143:8. 

(3) “O teu umbigo é taça redonda, a que não falta bebida” V.2a. O umbigo tem uma influência sobre as entranhas do corpo e promove a saúde delas. A Bíblia nos ensina: “Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Isso será remédio para o teu umbigo e medula para os teus ossos” Pv.3:7-8. O temor do Senhor é uma fonte de saúde para a totalidade do nosso ser. A Palavra de Deus, descrevendo a situação deplorável do pecador em seu estado natural, registra: “Quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água para te limpar, nem esfregada com sal, nem envolta com faixas”. Mas, quando este mesmo povo passa a temer ao Senhor e se arrepende da sua imundícia, é recebido e purificado. Ez.16:4-9. Veja o contraste entre um “umbigo não cortado” e um “umbigo que não falta bebida”. O primeiro é uma situação de negligência e de penúria; o outro é motivo de alegria por causa de seu zelo em suprir as necessidades da sobrevivência. Cristo elogiou a sua Igreja porque reconheceu que ela, como uma “taça redonda, a que não falta bebida”, está pastoreando, diligentemente, o povo redimido e salvo pela graça de Deus. Os oficiais da Igreja em Éfeso receberam esta exortação urgente: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” At.20:28. 

(4) “O teu ventre é monte de trigo, cercado de lírios” V.2b. O ventre alimenta todos as demais partes do corpo. Por isso, devemos observar duas verdades: Primeira, o ventre não produz por si mesmo o alimento, ele apenas o distribui. Segunda, o ventre depende de providências externas para poder distribuir o alimento. A Igreja não tem vida em si mesma; ela recebe a sua vida e todos os meios da sua sobrevivência em virtude da sua união vital com Cristo. O ventre é visto como “monte de trigo” a fim de evidenciar a superabundância da providência de Cristo. O Apóstolo encorajou a Igreja em Filipos, dizendo: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades” Fl.4:19. Devemos lembrar que este suprimento está exclusivamente “em Cristo”. Ele mesmo afirmou: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” Jo.15:4. Esta providência, de necessidade, não é um mero suprimento de coisas básicas, ela também inclui uma preciosa irmandade, “cercada de lírios”, os irmãos na fé. Como o Ap. Paulo confessou: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” Ef.1:3. 

(5) “Os teus seios, como duas crias, gêmeas de uma gazela” V.3. Esta comparação recebeu a sua interpretação no Capítulo 4:5. É um quadro de saúde e de produtividade. A Igreja foi constituída a fim de reproduzir-se e sustentar estes novos membros. O sinal da bênção do Senhor era o nascimento de filhos, enquanto que a esterilidade era entendida como uma repreensão da parte de Deus. Quando Isabel, que era estéril, se achou grávida, ela disse: “Assim me fez o Senhor, contemplando-me, para anular o meu opróbrio perante os homens” Lc.1:25. Assim, uma Igreja local que não está produzindo frutos é sinal de algo errado. Devemos orar para que a Palavra de Deus “se propague e seja glorificada” 2 Ts.3:1. Coloquemos os interesses humanos em segundo lugar para que os interesses do Senhor tenham a proeminência. 

(6) “O teu pescoço, como torre de marfim” V.4a. Esta comparação recebeu a sua interpretação no Capítulo 4:4. Aqui, em vez de ser “como a torre de Davi”, o pescoço é “como a torre de marfim”, denotando a sua preciosidade. A fé que a Igreja tem em Jesus Cristo é “muito mais preciosa do que ouro perecível” 1 Pe.1:7. Esta é a fé que agrada a Deus, a fé que devemos almejar e pedir: “Senhor, aumenta-nos a fé” Lc.17:5. 

(7) “Os teus olhos são as piscinas de Hesbon, junto à porta de Bate-Rabin” V.4b. Estas piscinas, de água cristalina, foram usadas como espelhos pelos pedestres, porque, quando alguém olhava para dentro da água, podia ver a imagem de seu rosto. Cristo elogia a Igreja por sua disposição humilde e penitente, pois, ao passar pelas piscinas de Hesbon, contemplando a sua própria pessoa nas águas refletoras, orava: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” Sl.139:23-24. A Igreja sabe que foi escolhida antes da fundação do mundo, a fim de viver uma vida santa e irrepreensível, como na presença de Deus. Por isso, ela se preocupa em ter uma vida impecável e agradável ao Senhor. Devemos imitar o Ap. Paulo quando, perante o Sinédrio, testificou: “Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até ao dia de hoje” At.23:1. E logo acrescentou: “Por isso, também me esforço por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens” At.24:16. Recebemos este encorajamento das Escrituras Sagradas: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, (...) aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel” Hb.10:19,22,23. 

(8) “O teu nariz, como a torre de Líbano, que olha para Damasco” V.4c. O nariz, a parte mais proeminente no rosto, sugere a idéia de vigilância (como a torre de Líbano). A  localização desta torre era destacada, ela olhava para Damasco, na Síria, onde o inimigo de Israel habitava, e de onde fazia as suas incursões contra os Israelitas. Portanto, uma vigilância maior era necessária. Semelhantemente, a Igreja tem um inimigo feroz às suas portas. O Ap. Pedro escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes, o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firme na fé” 1 Pe.5:8-9. Mas, temos outro inimigo ainda mais chegado: os restos da nossa natureza carnal. O Ap. Paulo lamentava: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto” Rm.7:15. Por isso, Cristo disse: “Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha” Ap.16:15. A Igreja em Filadélfia recebeu esta promessa: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra” Ap.3:10. Portanto, vamos seguir a mesma atitude do profeta que disse: “Por-me-ei na minha torre de vigilância, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa” Hc.2:1. 

(9) “A tua cabeça é como o monte Carmelo” V.5a. À semelhança deste monte, a cabeça é a parte mais importante do corpo; dela, todos os demais membros recebem a sua direção, e, de uma maneira específica, a nossa mente. Em certo sentido, é a nossa mente que determina as nossas atitudes diante de Deus e dos homens. “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma (mente), de todo o teu entendimento e de toda a tua força” Mc.12:30. E o Ap. Pedro nos orienta: “Finalmente, sede todos de igual ânimo (mente), compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isso mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” 1 Pe.3:8-9. O verdadeiro culto a Deus envolve o pleno uso da nossa mente. É possível realizar um tipo de culto, sem incluir a mente, mas é um culto infrutífero, isto é, um culto que não edifica e nem glorifica a Deus. Então, como devemos cultuar a Deus? O Ap. Paulo responde: “Orarei com o Espírito, mas também orarei com a mente, cantarei com o Espírito, mas também cantarei com a mente” 1 Co.14:14-15. Cristo tem prazer em ver a sua Igreja em oração, e, enquanto esperamos as devidas respostas, Ele guardará o nosso coração (emoções) e a nossa mente (pensamentos) com a sua paz, Fl.4:7. Portanto, a fim de desfrutar de uma vida cristã mais expressiva, temos de “cingir” a nossa mente, ser sóbrios e esperar inteiramente na graça que nos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo, 1 Pe.1:13. 

(10) “A tua cabeleira, como a púrpura” V.5b. Nenhuma parte da nossa pessoa é insignificante aos olhos de Cristo. Até os cabelos são como a púrpura, algo muito precioso. Quando Cristo estava encorajando os seus discípulos a uma confiança maior na providência divina, Ele usou duas figuras muito sugestivas: “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento do vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos estão contados. Não temeis, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” Mt.10:28-31. O Ap. Paulo fez uma referência ao cabelo da mulher que, quando coberto, era sinal da sua sujeição às autoridades instituídas na Igreja, 1 Co.11:10. É isto que agrada o Senhor Jesus, vendo a sua Igreja em plena sujeição à sua autoridade, Ef.5:24.

As descrições de Cristo são encerradas com uma lembrança da amabilidade da Igreja. “Um rei está preso nas tuas tranças”. V.5c. Até um rei pode ficar impressionado ao ver o procedimento submisso da Igreja diante da autoridade de seu Senhor. O Ap. Pedro faz uma referência ao poder da Igreja quando o seu procedimento é santo e irrepreensível. É possível ganhar o descrente para Cristo, “por meio do procedimento da esposa” 1 Pe.3:1. O Ap. Paulo, insistindo sobre a importância do nosso procedimento diante das pessoas mais fracas na fé, disse: “Por causa da tua comida (individualismo egoístico), não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu” Rm.14:15. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” 1 Co.15:58.

3. Cristo Expressa a sua Admiração pela Igreja, Vs.6-9. 

Nos Versículos 1 a 5, Cristo, através de diversas comparações, descreveu a aparência visível da sua Igreja; e, nos versículos 6 a 9, Ele expressa o que sente por sua Igreja. Cristo ama o seu povo redimido, porque nele, o amor é personificado, cheio de todas as delícias que agradam o coração.

a) Uma declaração de sua estima pela Igreja. “Quão formosa e quão aprazível és, ó amor em delícias” V.6. Uma outra versão deste versículo é: “Tu tens sido feita tão formosa e aprazível”. Ela não nasceu com esta formosura; esta foi implantada nela pela regeneração transformadora. A explanação é: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” 2 Co.5:17. Tudo é diferente para a glória de Deus. Dois aspectos desta mudança são destacados. Primeiro, a formosura da Igreja, a sua beleza externa. Muitas vezes, as marcas do pecado estão estampadas sobre o corpo físico do pecador. Podemos imaginar a aparência de certo homem que ficou paralítico durante trinta e oito anos por causa de um pecado específico que praticara. Ele jazia no meio “de uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos”. Embora nem todas as enfermidades são causadas por pecados específicos, contudo, a paralisia daquele homem fora causada por algum pecado específico, porque, quando Jesus o curou, ele foi advertido: “Olha, que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior” Jo.5:1-15. Assim, podemos imaginar a mudança radical que aconteceu na aparência daquele homem. Em vez de viver deitado e desamparado no meio de outros infelizes, ele foi curado, levantou-se, tomou o seu leito, andou, e passou a glorificar a Cristo pela dádiva recebida. O poder do perdão dos nossos pecados e o testemunho do Espírito Santo testificando com o nosso espírito que somos filhos de Deus nos dá uma formosura que encanta o coração de Cristo, o Autor desta salvação maravilhosa. Em segundo lugar, a aprazibilidade da Igreja, a sua beleza interior, ou, o poder da regeneração sobre o nosso temperamento. Éramos “odiosos e odiando-nos uns aos outros” Tt.3:3. Agora, porém, regenerados pelo Espírito Santo, nos tornamos amáveis, amando uns aos outros. “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos uns aos outros; aquele que não ama permanece na morte” 1 Jo.3:14. Cristo, que conhece “o homem interior do coração” de cada um de nós, sabe se temos esta aprazibilidade caracterizando o nosso procedimento, 1 Pe.3:4. Jesus está sempre pronto para encorajar a sua Igreja no meio de suas perplexidades, exclamando: “Quão formosa e quão aprazível és, amor em delícias”.

Notemos esta última frase: “Ó amor em delícias”. Cristo está dizendo que a Igreja é a personificação do amor, por causa do amor fraternal que reina entre os seus membros. Este amor, que é tão singular, produz um bem estar entre os irmãos, embora cada um tenha a sua própria personalidade. Sem este amor fraternal, as riquezas, a honra, o obséquio, as vantagens deste mundo não têm nenhum valor. Cristo disse: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” Jo.13:34. O mandamento do amor fraternal é novo por causa do padrão que temos que seguir. Amamos tal como Cristo nos ama. Quando Ele vê a Igreja seguindo o seu exemplo, a sua alegria é completa, porque o padrão que Ele estabeleceu não foi desprezado.

b) Cristo elogia o procedimento da sua Igreja. “Esse teu porte é semelhante à palmeira e os teus seios a seus cachos”. V.7. “Esse teu porte”, a visão de todas as partes do corpo, desde os pés até a cabeça, a harmonia entre todas, é uma imagem impressionante, semelhante à palmeira. Essa árvore é citada muitas vezes na Bíblia, simbolizando alegria e vitória na presença do Senhor. A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém foi acompanhada por uma numerosa multidão que “tomou ramos de palmeiras, clamando: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel!” Jo.12:12-13. No céu, os redimidos estão “diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos” Ap.7:9. A palmeira tem duas características distintas: ela cresce reta e imponente e produz tâmaras, uma fruta muito aprazível. A Igreja tem estes mesmos dois valores; ela é conhecida por sua retidão e frutescência. O Ap. Paulo, orando em favor dos Colossenses, suplicou: “a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus” Cl.1:10. Os seios, como cachos, enfatizam esta frutescência. E, sobre esse mesmo tema, Cristo disse: “Nisto é glorificado o meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos” Jo.15:8. 

c) Cristo manifesta o seu contentamento com a sua Igreja, Vs.8-9. Ele emprega três figuras para descrever o seu prazer ao sentir as virtudes específicas da sua Igreja. 

I) A decisão de Cristo. “Dizia eu: subirei a palmeira, pegarei em seus ramos” V.8a. Os ramos da palmeira são as suas palmas que se encontram no topo da árvore, juntamente com seus frutos. O prazer de Cristo é estar no meio do seu povo, regozijando-se na abundância de seu fruto. Esta comunhão espiritual que Cristo tem com a sua Igreja vem de sua própria iniciativa. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei que vades e deis fruto e que o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda” Jo.15:16. Ao reconhecermos esta condescendência de Cristo, devemos sentir a nossa obrigação para com Ele. E, de fato, “somos devedores” Rm.8:12. No céu, os redimidos são vistos como aqueles que “lavaram as suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário” Ap.7:14-15. 

II) O anseio de Cristo. “Sejam os teus seios como os cachos de vide e o aroma da tua respiração como o das maçãs”. V.8b. Estas duas expressões descrevem o que Cristo anseia encontrar no meio de seu povo. Os “seios como cachos de vide” são figuras de refrescamento; e “o aroma da tua respiração, como o das maçãs” descreve o gosto agradável deste refrescamento. Para redimir a sua Igreja, Jesus tinha que experimentar “o penoso trabalho de sua alma” Is.53:11. Agora, Ele quer experimentar o fruto de seu sofrimento. Ao visitar as sete Igrejas da Ásia, Ele encontrou, em cinco delas, motivos de tristeza. Mas, em duas delas, Esmirna e Filadélfia, podemos sentir o seu prazer, através das promessas que lhes deu. Apesar de experimentar adversidades nesta vida, uma viva esperança permanece imperturbável: “O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte” - banimento eterno da presença de Deus, Ap.2:11; 3:12; 2 Ts.1:9. “Assim, estaremos para sempre com o Senhor” 1 Ts.4:17. Este é o anseio de Cristo: “Para que onde eu estou, estejais vós também” Jo.14:3. 

III) A exclusividade da Igreja. “Os teus beijos são como o bom vinho, vinho que escoa suavemente para o meu amado, deslizando entre seus lábios e dentes”. V.9. Os beijos que Cristo recebe da sua Igreja são manifestações de um amor exclusivo. Eis a confissão que a Igreja dirige a Cristo: “Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente” Sl.16:2. Como o bom vinho comunica um senso de prazer, assim, Cristo regozija-se com as demonstrações do amor da sua Igreja. Este amor que “escoa suavemente” comunica-lhe como a Igreja procura ser-lhe fiel. “Cristo amou a sua Igreja e a si mesmo se entregou por ela”. E, a Igreja, por sua parte, manifesta a exclusividade de seu amor através de uma sujeição irrestrita, confessando: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” Ef.5:24-25; Hb.10:9.














Conclusão 

O nosso amor a Cristo aumenta à medida que compreendemos a intensidade de seu amor para conosco.  E, através do ensino deste Livro (Cântico dos Cânticos), Cristo, usando uma linguagem poética e alegórica, está descrevendo o seu amor para conosco, a sua Igreja. O Ap. Paulo podia falar da “sublimidade do conhecimento de Jesus Cristo”, o seu Senhor e o Dono de sua vida. Ele teve experiências arrebatadoras em sua comunhão com Cristo, contudo, não ficou satisfeito, antes, confessou: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado (o máximo em experiência espiritual); mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” Fl.3:8,13,14.

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