sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

OS DIÁLOGOS FINAIS

Leitura Bíblica: Cântico dos Cânticos, 7:10-8:14

Introdução 

Na primeira parte, 7:10-8:8, A Igreja descreve a comunhão espiritual que ela deseja experimentar com Cristo, o seu Amado. Mas, antes de começar qualquer descrição, a Igreja faz uma confissão pública da natureza da sua familiaridade com Cristo. “Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim” - ou, a sua afeição é dirigida a mim, V.10.

A certeza da nossa salvação é um dos privilégios mais preciosos na experiência cristã. No meio de sofrimentos e perseguições, a fé do Ap. Paulo não vacilou, antes, ele se consolou, confessando: “Estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito (a minha vida que entreguei a Ele) até aquele Dia” 2 Tm.1:12. Nós temos esta certeza porque cremos que toda a afeição de Cristo é dirigida a seu povo, que Ele comprou quando deu a sua vida em resgate por muitos. E, para justificar a sua disposição de abnegação, Jesus esclareceu: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos”. E, olhando para os discípulos, acrescentou: “Vós sois os meus amigos, se fazeis o que eu vos mando” Jo.15:13-14. À luz desta demonstração do amor sacrifical de Jesus Cristo, o Ap. Paulo, num ato de consagração, entregou-se, corpo e alma a seu Redentor, confessando: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” Gl.2:19-20. Nesta confissão temos a natureza da sua consagração e o motivo da mesma. Agora, estamos prontos para entender os anseios espirituais da Igreja.

1. Os Anseios para uma Comunhão Espiritual com Cristo, 7:11-13. 

Às vezes, somos passivos, ouvindo e atendendo os convites de Cristo, mas aqui, é a Igreja que toma a iniciativa, convidando-o para um tempo à parte, a fim de desfrutar, sozinhos, de uma comunhão espiritual.
a) O primeiro convite. “Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias” V.11. Sentimos o anseio da Igreja, sedenta de ter um tempo a sós com seu Amado. Em Apocalipse, a mesma ardência está presente. Quando Cristo prometeu: “Certamente, venho sem demora”. A Igreja logo respondeu: “Amém. Vem, Senhor Jesus” Ap.22:20. O verbo exprime uma urgência: “Vem, é meu amado” - preciso ter um tempo a sós contigo. Nas orações públicas, apesar de seu grande valor, a tendência é se restringir aos assuntos gerais, próprios para os ouvidos públicos. Por isso, precisamos de tempo em oração secreta, quando somente os ouvidos de Cristo estão abertos para ouvir as nossas súplicas. Precisamos de tempo quando podemos, sem qualquer constrangimento, derramar o nosso coração diante do nosso Amado. Ele mesmo nos encorajou: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” Mt.6:6.

A figura de campos e de aldeias sugere privacidade. Campos são lugares solitários. Quando Isaque estava preparando o seu coração para encontrar com Rebeca, ele saiu a meditar no campo, Gn.24:63. Antes de escolher os doze apóstolos, Jesus passou uma noite inteira no monte em oração. “E quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre deles” Lc.6:12-13.

Passar as noites nas aldeias, longe da agitação das cidades grandes, sugere um tempo mais prolongado a sós com Cristo. Esperar na presença do Senhor sem sentir necessidade de levantar logo e de ficar envolvido nas preocupações seculares é um dos deveres espirituais que precisam ser desenvolvidos com maior diligência pela Igreja moderna. “Descansa no Senhor e espera nele”. É a recomendação do Salmista, Sl.37:7

b) O segundo convite. “Levantemo-nos cedo de manhã para ir às vinhas; vejamos se florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as romeiras; dar-te-ei ali meu amor”. V.12. A Igreja continua manifestando o seu anseio espiritual. Ela não quer ficar na cama por horas desnecessárias, quer levantar cedo a fim de passar os primeiros momentos do dia em comunhão espiritual com o seu Amado. “Levantar cedo” sugere pelo menos três pensamentos que merecem a nossa reflexão séria. 1) Espontaneidade e devoção. As mulheres levantaram cedo para cuidar do corpo crucificado de Jesus. “Mas, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo, levando os aromas que haviam preparado” Lc.24:1. 2) Confiança na providência do Senhor. “Sacia-nos (cedo) de manhã com a tua benignidade, para que cantemos de júbilo e nos alegremos todos os nossos dias” Sl.90:14. 3) Seriedade na busca do Senhor. “Com minha alma suspiro de noite por ti e, com o meu espírito dentro de mim, eu te procuro diligentemente (bem cedo); porque, quando os teus juízos reinam na terra, os moradores do mundo aprendem justiça” Is.26:9. Um desejo sincero para ter comunhão espiritual com o Senhor nos dará a disposição necessária para levantar cedo e entregar todas as nossas atividades aos cuidados do Senhor. “Desperta, ó minha alma. Desperta, lira e harpa! Quero acordar a alva” Sl.57:8.

O contexto do versículo 12 é um jardim cultivado, onde crescem vinhas, romeiras, mandrágoras e toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos, os quais representam as dádivas da graça de Deus. Cada cristão é um despenseiro, com a responsabilidade de cuidar e administrar estes dons para a glória de Deus. Portanto, a Igreja está convidando o seu Amado para ver o desenvolvimento deste fruto do Espírito. Quando somos fiéis em nossa mordomia espiritual, sentimos confiança para deixar Cristo ouvir a nossa prestação de contas. Portanto, o segredo para cultivar esta confiança está nestes princípios: “Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” Gl.5:16. “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” 1 Jo.1:7.Somos exortados a desenvolver uma sensibilidade espiritual: “Filhinhos, agora, pois, permanecei nele (Cristo), para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda” 1 Jo.2:28.

Aquele que tem plena comunhão com Cristo tem confiança para lhe prometer: “Dar-te-ei ali o meu amor”. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” 1 Jo.4:19. A evidência de um verdadeiro amor a Cristo se manifesta através de um coração que deseja, ora e usa todos os meios da graça para fortalecer este apego.

c) Os motivos destes convites. “As mandrágoras exalam o seu perfume, e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos; eu tos reservei, ó meu amado” V.13. Nos dois convites (Vs.11 e 12), a Igreja sugeriu o que ela poderia fazer ao lado de seu Amado; por exemplo: “ir às vinhas” etc. Agora ela está dando a razão principal destes convites. Ela quer mostrar-lhe “toda sorte de excelentes frutos” que reservou para Ele, a fim de hospedá-lo com mais devoção. Em Apocalipse 3:20, Cristo está aguardando uma recepção da parte da Igreja, e, sendo convidado, revela a sua boa vontade para conosco, prometendo: “Entrarei na sua casa e cearei com ele, e ele comigo”. O maior prazer na vida de Cristo é ser recebido por sua Igreja e desfrutar de comunhão espiritual com ela. Foi neste sentido que Cristo disse a seus discípulos: “E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” Jo.14:3. Quais são os frutos que a Igreja reservou para o seu Amado?

I) “As mandrágoras exalam o seu perfume”. Esta planta era muito procurada para perfumar os ambientes de recepção. E aqui a Igreja está confessando que já preparou tudo para receber Cristo com a devida santidade. O Apóstolo disse que nós, os cristãos, “somos para com Deus o bom perfume de Cristo” 2 Co.2:15. Ele nos reconhece como o seu povo por causa da presença de Cristo em nossa vida e da influência que esta presença produziu. Aqui, a Igreja está querendo mostrar a seu Amado um aspecto deste fruto que deve caracterizar a índole de todo o seu povo. “Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros” 1 Jo.4:11.  

II) Para esta recepção de Cristo, a Igreja colocou às portas as evidências deste amor fraternal, para que isso seja a primeira coisa a ser notada em nossa vida. A Igreja fala de “toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos”. O amor fraternal é um fruto novo na vida do redimido, pois, outrora, ele era cheio de ódio e odiando o seu próximo, Tt.3:3. Somos encorajados a sempre contar as bênçãos recebidas, não apenas as novas, mas também as velhas, tais como o nosso encontro com Cristo, a redenção, o perdão e as vitórias alcançadas em nosso anseio por uma vida mais pura. 

III) A realidade da nossa consagração. Tudo o que temos e somos é consagrado inteiramente a Cristo, nossos dons e os frutos que estes produzem. “Eu tos reservei, ó meu amado”. O Ap. Paulo descreveu a sua consagração quando disse: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pelo Filho de Deus” Gl.2:20. Esta consagração lhe deu uma disposição de abnegação: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” 2 Co.12:15. Que cada um de nós possa confessar a Cristo: Tudo o que tenho, “eu tos reservei, ó meu amado”.

2. A Intensidade desta Comunhão Espiritual, 8:1-8. 

O amor que a Igreja tem para com Cristo está se intensificando. Ela experimentara um tempo doloroso de dormência espiritual, mas, agora, despertada, ela derrama diante de Cristo toda a intensidade de seus anseios espirituais.

a) A intimidade desta comunhão espiritual, Vs.1-2. A Igreja se refere àquela liberdade afetuosa entre irmãos dos mesmos pais. Aqui, a Igreja, em sua ansiedade espiritual, exclama: “Tomara fosses como meu irmão, que mamou os seios de minha mãe!” Ela anseia por uma liberdade com Cristo, semelhante àquela que existe entre irmãos dos mesmos pais. Houve muito mais afinidade e liberdade entre José e Benjamim do que com os demais irmãos, porque a mãe deles era a mesma, Gn.43:34; 45:14. Em seguida, a Igreja apresenta quatro motivos que justificam este anseio por uma liberdade espontânea com Cristo.

(1) “Quando te encontrasse na rua”, ela promete um reconhecimento público, sem qualquer constrangimento, V.1a. Cristo dá muita importância à confissão pública de seu nome, dizendo: “O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos” Ap.3:5.

(2) Não apenas uma palavra audível, mas, um sinal visível de seu amor a Cristo: “Beijar-te-ia, e não me desprezariam” V.1b. Como todos respeitam o amor entre irmãos dos mesmos pais, assim, a Igreja é respeitada quando manifesta a sua fidelidade a Cristo. O beijo continua sendo uma demonstração de amor mútuo. No Capítulo 7:12, a Igreja expressou a mesma espontaneidade a Cristo: “Dar-te-ei ali o meu amor”. O grande dever daquele que conhece a Cristo é amá-lo e derramar o seu coração diante dele. Obediência àquele que é amado continua sendo a melhor demonstração do amor verdadeiro. Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” Jo.14:15. 

(3) Ao encontrar com Cristo, a Igreja promete: “Levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias” V.2a. O desejo de testemunhar do nosso amor a Cristo é uma das primeiras evidências do nosso compromisso com Ele. Quando o Ap. Paulo se converteu, ele “logo pregava nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este é o Filho de Deus” At.9:20. O desejo do geraseno, quando ficou curado, foi seguir nos passos de Jesus, mas ele recebeu esta orientação: “Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-Ihes tudo o que o Senhor te fez e como teve compaixão de ti” Mc.5:19. A nossa própria família tem o direito de ouvir da nossa fé em Jesus Cristo. O Ap. Paulo observou: “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” 1 Tm.5:8. Neste aspecto do nosso testemunho, precisamos de muita sabedoria, por isso, a Igreja, confiando na orientação do Senhor, afirmou: “E tu me ensinarás”. Nem sempre sabemos qual a melhor maneira para apresentar o evangelho nos diferentes ambientes, por isso, o Ap. Paulo solicitou as orações da Igreja: “para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho” Ef.6:19.

(4) Uma vez na casa, a Igreja promete oferecer a Cristo a melhor recepção: “Eu te darei a beber vinho aromático e mosto de minhas romãs” V.2b. A Igreja está convidando seu Amado a desfrutar das manifestações da sua graça na vida de seu povo. Amamos a Cristo porque Ele nos amou primeiro. Podemos hospedá-lo, porque Ele mesmo nos dá os recursos necessários. “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto, porque sem mim nada podeis fazer” Jo.15:5.

b) O apoio que a Igreja está aguardando receber. Ela quer sentir a segurança das mãos de Cristo auxiliando-a. “A sua mão esquerda estará debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abraçaria. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira” Vs.3-4. Estes versículos foram explicados no Cap.2:6-7. Aqui, a Igreja deseja que Cristo a segure com ambas as mãos, numa comunhão espiritual que não deve ser interrompida por nenhuma razão. Mas as filhas de Jerusalém não conseguem se conter, e perguntam: “Quem é esta que sobe do deserto e vem encostada ao seu amado'?” V.5a. Até as descomprometidas de Jerusalém são constrangidas a reconhecer a beleza singular da Igreja, em plena comunhão e união com Cristo. Este é o testemunho que convence o mundo dos valores espirituais. 

c) A valorização dos bens espirituais, Vs.5b-8. A Igreja não se incomodou com a interrupção das filhas de Jerusalém, e nem lhes ofereceu uma resposta. Ela continuou imperturbável em sua comunhão com Cristo, fazendo-lhe as suas petições.

I) O fruto da perseverança. “Debaixo da macieira te despertei” V.5b. Às vezes, na experiência do povo de Deus, parece que o Senhor está dormindo, ou, pelo menos, desatento. O Salmista experimentou estes tempos de incomunicação, e reclamou: “Desperta! Por que dormes, Senhor? Desperta, não nos rejeites para sempre. Por que escondes a face e te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão?” Sl.44:23-24. Por que o Senhor age assim? Uma das razões principais é para sondar e fortalecer a nossa fé. O Senhor é sempre “galardoador dos que o buscam” Hb.11:6. O Salmista testemunhou: “Clamou este aflito, e o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações” Sl.34:6. A mulher Cananéia enfrentou uma aparente indiferença da parte do Senhor, contudo, não desistiu, e foi recompensada com um elogio: “Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã” Mt.15:21-28. De certa feita, quando Jesus e seus discípulos estavam num barco atravessando um lago, “levantou-se grande temporal de vento, e as ondas arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água”. Os discípulos ficaram apavorados; porém, Jesus, evidentemente, não tomou conhecimento do temporal, porque estava “dormindo sobre o travesseiro”. Era necessário despertá-lo com um clamor desesperado: “Mestre, não te importa que pereçamos?” Novamente, a súplica foi atendida: “E, Jesus, despertado, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou e fez-se grande bonança” Mc.4:35-41. Em nosso texto, a Igreja teve essa mesma experiência de desatenção: “Chamei-o, e não me respondeu”. Contudo, ela não esmoreceu, antes, perseverou e alcançou este testemunho: “Debaixo da macieira te despertei”. Às vezes, mediante a oração perseverante, é necessário “despertar” o Senhor a fim de que sejamos ouvidos.

No lugar onde a Igreja despertou o seu Amado, ela se lembrou de uma outra experiência, a sua regeneração. “Ali esteve a tua mãe com dores (a Igreja organizada ou, um evangelista); ali esteve com dores aquela que te deu à luz” V.5c. Cada membro da Igreja tem que ter a experiência do novo nascimento. O processo de regeneração envolve dores, não apenas da parte do regenerando, mas, também, do obreiro que está sendo usado pelo Espírito Santo. Há uma luta espiritual. “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” Gl.5:17. O Ap. Paulo conhecia esta luta espiritual, pois, quando soube da heresia que estava fascinando as Igrejas da Galácia, escreveu: “Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores do parto, até ser Cristo formado em vós” Gl.4:19. Quando alguém é regenerado de verdade, é uma obra irrevogável; ele é libertado da pena da morte, porque todos os seus pecados foram perdoados; é livre para ter acesso ao trono da graça; e, é livre para servir, desembaraçadamente, o Deus vivo e verdadeiro. O grande alvo para cada um de nós é que Cristo seja formado em nossa vida.

II) As dimensões do amor, Vs.6-7. Neste primeiro pedido, a Igreja pede que Cristo, de duas maneiras diferentes, confirme o seu amor para com ela, V.6. Em primeiro lugar: “Põe-me como selo sobre o teu coração”. Ela está pedindo que Cristo a ame com todo o seu coração. O selo sempre deixa a sua marca sobre o objeto carimbado; e a Igreja está pedindo que ela mesma seja esta marca sobre o coração de Cristo. Nos Evangelhos, Cristo confessava, repetidamente, o seu amor para com os discípulos. Como o Pai ama ao seu Filho, assim, Cristo ama a seu povo, Jo.15:9. É um amor que perdura para toda a eternidade. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” Jo.13:1. Mas a maior prova do amor de Cristo foi dada quando Ele deu a sua vida em resgate por muitos. Cristo disse: “Eu sou o bom pastor, o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas (...) Ninguém a tira de mim, pelo contrário, eu espontaneamente a dou” Jo.10:11,18. Feliz a pessoa que tem esta certeza: “Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” Gl.2:20. Em segundo lugar, a Igreja pede: “Põe-me como selo sobre o teu braço”. Ela está pedindo para que tenha um lugar no braço de seu Amado. Ela está embasando o seu pedido sobre as promessas que Deus tem dado ao seu povo nas Escrituras Sagradas: “Como pastor (o Senhor), apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam, ele guiará mansamente” Is.40:11. Esta é a segurança que a Igreja está pedindo. E, como garantia, Cristo afirmou: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” Jo.10:27-28. Feliz a pessoa que tem esta segurança em Jesus Cristo, e que pode confessar: “Nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me remiste, Senhor, Deus da verdade” Sl.31:5.

Em seguida, a Igreja usa cinco ilustrações para descrever como o amor de Cristo atua em sua vida, Vs.6b-7.

(1) “O amor é forte como a morte”, é irresistível. Em certos casos, é possível driblar, momentaneamente, a morte, mas é ela que sempre vence. O amor de Cristo também pode ser resistido durante algum tempo, contudo, ele sempre vence. Tantas coisas nesta vida são passageiras, mas, na experiência cristã, o que permanece é “a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor”. 1 Co.13:1-13. O amor é o maior porque a fé e a esperança são dons para esta vida, enquanto que o amor não é apenas para esta vida, ele segue os redimidos através da morte e continua os acompanhando na eternidade. O amor de Cristo é eterno e jamais será retirado de seu povo. Ele mesmo disse: “Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” Jr.31:3. O amor de Cristo é constrangedor. Quando este amor está em nós, somos constrangidos a obedecê-lo em tudo. Cristo estabeleceu: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” Jo.14:15. O Ap. Paulo sentiu o poder constrangedor deste amor quando confessou: “Pois o amor de Cristo nos constrange” 2 Co.5:14. E quando estamos sendo assediados por tentações atraentes, é o amor de Cristo que nos constrange a exclamar: “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” Gn.39:9. O amor de Cristo será sempre uma força constrangedora. Recebamos, pois, esta exortação: “Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna” Jd.21.

(2) “É duro como a sepultura, o ciúme”. Ciúme tem dois sentidos: Negativamente, o ciúme é aquela falta de confiança, aquela insatisfação com o próximo, e o resultado destes sentimentos pecaminosos é sempre contendas e crueldades. Os irmãos de José sentiram ciúmes dele por causa de suas palavras proféticas, Gn.37:5-11. Deus pode usar o ciúme para obrigar o seu povo a respeitar a soberania de suas ações, escolhendo nações gentílicas, Rm.10:19-20. Mas, por outro lado, o ciúme pode ser a expressão máxima do amor verdadeiro. Nesse sentido, Deus sente ciúmes (zelos) quando o seu povo o rejeita em favor de outros deuses, Dt. 32:16,21. O amor de Deus é tão puro e possuidor que não pode aceitar concorrências, e quando esta duplicidade acontece, os infiéis o provocam a ter zelos (ciúmes). Convém lembrar que Ele é bem mais forte do que qualquer homem, e, quando provocado, quem o pode resistir? 1 Co.10:21-22. Como é que Deus manifestou a intensidade de seu amor para conosco? “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós; em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele” 1 Jo.4:9. Portanto, quando alguém faz descaso de Jesus Cristo, está desprezando o amor de Deus e provocando-o ao ciúme. “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” Hb.10:31.

(3) “As suas brasas (as do ciúme) são brasas de fogo, são veementes labaredas”. No sentido positivo, o ciúme é consumador, ele realiza todos os seus objetivos. “Brasas de fogo” descrevem, dramaticamente, o amor de Cristo para conosco.  “Cristo amou a sua Igreja e a si mesmo se entregou por ela” Ef.5:25. Podemos sentir algo desta ardência, quando, indo para Jerusalém, Ele soube que seria rejeitado, condenado à morte, entregue aos gentios, escarnecido, cuspido, açoitado e morto, Mc.10:33-34. Mas, apesar de saber de toda esta ignomínia, vemos Cristo com a “intrépida resolução de ir para Jerusalém”, de dar a sua vida imaculada como o preço caríssimo da nossa redenção e salvação, Lc.9:51. Devemos sempre lembrar da situação espiritual daqueles que seriam redimidos. “Sendo nós ainda pecadores”, sem nenhum mérito pessoal que pudesse agradar a Deus, Cristo morreu por nós, Rm.5:8. “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos”. E nós, os redimidos e salvos por quem Cristo morreu, somos estes amigos, Jo.15:13-14. Sim, o amor de Cristo para conosco é como “brasas de fogo”, um amor que realizou tudo a fim de salvar o seu povo amado.

(4) “As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo”. O amor de Cristo é inapagável. Se todas as forças negativas da natureza se levantassem com o propósito de nos separar do amor de Cristo, seria uma futilidade; pois, para o nosso encorajamento espiritual, a Bíblia afirma: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” Rm.8:35-39. Novamente, devemos sentir o aspecto negativo do ciúme, que arde como “veementes labaredas” contra aqueles que desprezam o sacrifício de Cristo. “De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés do Filho de Deus e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?” Hb.10:29. 

(5) “Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado”. O amor de Cristo tem um valor inestimável e deve ser guardado com toda a nossa diligência, pois é “a pérola de grande valor” Mt.13:45-46. Neste mundo, a tentação tem diferentes manifestações. Uma das mais comuns que a Igreja enfrenta são as ofertas para substituir o amor de Cristo por algo do momento. Cristo valorizou o amor de seu Pai acima de todas as coisas. Quando Satanás tentou a Cristo, ele O estava convidando a trocar o amor do Pai por um valor material. Em vez da fidelidade ao Pai, Ele receberia todos os bens da casa de Satanás. “Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” Mt.4:8-9. Ele foi tentado a abandonar a sua fidelidade ao Pai e ao seu amor a fim de tomar posse de “todos os reinos do mundo e a glória deles”. Nós vamos ficar eternamente gratos a Cristo por causa da sua firmeza quando desprezou esta oferta mentirosa do Maligno. Todas as vaidades deste mundo são enganadoras; são “como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” Os.6:4. O Ap. Paulo era dotado de muitos privilégios neste mundo, porém, quando experimentou o amor de Cristo em sua vida, logo considerou aquela herança material “como refugo (lixo) a fim de conseguir o valor superior; os privilégios do amor de Cristo, Fl.3:8-9. Quando a Bíblia nos exorta a vigiar e a orar, a fim de não cair em tentação, certamente está incluindo esse assédio de Satanás para instigar-nos a substituir o amor de Cristo por algo passageiro desta vida. Como podemos vencer tais tentações? Devemos meditar sobre o fim delas (viver sem o amor de Cristo) e praticar o princípio de prioridades, o dever de guardar o amor de Cristo como “âncora da alma, segura e firme” Hb.6:19. Como é bom e consolador cantar:

“Descansa, ó alma, eis o Senhor ao lado; paciente leva, e sem queixar-te a cruz;
Deixa o Senhor tomar de ti cuidado, é imutável teu fiel Jesus; 
Prossegue, ó alma, o Amigo celestial protegerá teus passos no espinhal!”
HNC.156.

d) A missão prioritária da Igreja, Vs.8-10. Devemos meditar sobre estes três pontos: O dever da evangelização; O dever de cooperar com Cristo; e, O dever de testemunhar com ações de graças. Comunhão espiritual inclui a prática destes deveres inadiáveis que manifestam o fruto que a Igreja deve produzir.

I) O dever da evangelização. “Temos (os membros particulares da Igreja organizada) uma irmãzinha que ainda não tem seios; que faremos com esta nossa irmã no dia em que for pedida?” V.8. Esta irmãzinha é uma menina nova, pois ainda não tem seios, portanto, representa todas as crianças ao nosso redor, e a necessidade de evangelizá-las antes que elas assumam compromissos com as vaidades deste mundo. O dia em que serão pedidas se aproxima rapidamente. Cristo tem um interesse amoroso pelas crianças, por isso exorta: “Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus” Mt.10:14. “Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” Is.40:11. Sabemos que as crianças crescem muito depressa, e, logo alguém vai chegar, oferecendo-lhes os prazeres deste mundo. Infelizmente, “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” não demoram a se apresentar, 1 Jo.2:16. A criança deve ser conduzida para assumir um compromisso de obediência somente como Cristo, antes que estas coerções da carne cheguem. Por isso, Cristo disse: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” Jo.3:3. Sem a intervenção misericordiosa do novo nascimento, a criança permanece em seu estado natural, “não tendo esperança e sem Deus no mundo” Ef.2:12. Portanto, a Igreja tem que sair “pelos caminhos e atalhos e obrigar a todos a entrar” Lc.14:23 A salvação das crianças, bem como a das pessoas de maior idade, deve ser parte prioritária da missão da Igreja. O Senhor encorajou o Ap. Paulo, dizendo-lhe: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales, porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade” At.18:9-10.

II) O dever de cooperar com Cristo. “Se ela for um muro (o início de uma construção), edificaremos sobre ele uma torre de prata; se for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro” V.9. Notemos os dois verbos que Cristo usou: “edificaremos e cercaremos”, Cristo e a Igreja trabalhando juntos para trazer as boas novas da salvação para muitas pessoas. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”. Cristo, na cruz do Calvário, realizou a redenção; e, nós, a Igreja, temos a responsabilidade para anunciar estas boas novas, das quais, o resumo é: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” - vestidos com a justiça imaculada de Cristo; e, assim, somos reconciliados com Deus, 2 Co.5:18-21.

Contudo, temos que reconhecer que, antes de poder receber o evangelho, o Espírito Santo tem que fazer uma obra preparatória. “Se ela for um muro, (...) se for uma porta”, se ela tiver um coração preparado para receber o evangelho, “edificaremos sobre ele uma torre de prata; se for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro”. Será um edifício com uma beleza singular e cercado por uma proteção impenetrável. O Ap. Paulo demonstra a sua confiança, dizendo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós, há de completá-la até ao Dia de Jesus Cristo” Fl.1:6. A Bíblia ensina que este edifício é o nosso corpo, “o santuário do Espírito Santo” 1 Co.6:19. O Salmista confessou ao Senhor: “Tu me refazes a vida” Sl.138:7. E o Ap. Paulo descreveu a regeneração do homem em termos de ser refeito “segundo a imagem daquele que o criou” Cl.3:10. A beleza deste edifício é comunicada pelo Espírito Santo que nele habita, e a sua proteção é realizada pelo poder de Deus, 1 Co.3:16; 1 Pe.1:5. “Portanto, meus irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo, que no Senhor, o vosso trabalho não é vão” 1 Co. 15:58.

III) O dever de testemunhar com ações de graças. “Eu sou um muro, e os meus seios são como as suas torres; sendo eu assim, fui tida por digna de confiança do meu amado” V.10. Notemos o contraste entre os versículos 8 e 10. Aquela que tem experiência cristã, que tem muro e seios; e aquela que ainda não tem esta experiência, que não tem muro e nem seios (os símbolos de crescimento espiritual). Há sempre uma distinção marcante entre aquela que tem comunhão espiritual com Cristo e aquela que não conhece o Salvador; entre aquela que está crescendo espiritualmente e aquela que vive na ignorância. O testemunho da Igreja tem duas partes. Em primeiro lugar, a Igreja fala da sua experiência cristã: “Eu sou um muro, e os meus seios, como as suas torres”. Eu tenho as evidências da regeneração no meu procedimento e estou crescendo espiritualmente. Não é egoísmo e nem presunção confessar, publicamente, a nossa experiência espiritual, pelo contrário, é absolutamente necessário: “Se com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” Rm.10:9. E, semelhantemente, é necessário ter um crescimento espiritual que outros reconheçam. “Pois a vossa fé cresce sobremaneira, e o vosso mútuo amor de uns para com os outros vai aumentando, a tal ponto que nós mesmos nos gloriamos de vós nas Igrejas de Deus” 2 Ts.1:3-4. Todos nós crescemos no conhecimento das ciências seculares, mas o Ap. Pedro fala de algo ainda mais importante: “Antes, crescei na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” 2 Pe.3:18. Em segundo lugar, a Igreja agradece ao Amado pela confiança que Ele tem em seu povo. “sendo assim (regenerada pela graça de Deus), fui tida digna da confiança do meu amado”. Por natureza, não somos dignos de nenhuma confiança, porque o pecado corrompeu a totalidade da nossa disposição moral e espiritual; mas, agora, regenerados, o Senhor nos considera dignos de confiança, porque somos filhos e filhas da obediência, 1 Pe.1:14. O Ap. Paulo confiou na obediência de Filemom, porque soube que Onésimo seria recebido “como irmão caríssimo” Fm.16,21. O mesmo Apóstolo sentiu a maravilha desta confiança que o Senhor depositou nele, o seu servo regenerado: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo, era blasfemador, e perseguidor, e insolente” 1 Tm.1:12-13. A prova desta confiança que o Senhor tem em nós manifestou-se “a ponto de nos confiar o evangelho”, dando-nos a responsabilidade para pregar as boas novas de salvação pela fé em Jesus Cristo, 1 Ts.2:4.
e) As palavras finais e a despedida, Vs.11-14. A Igreja, reconhecendo que foi tida por digna da confiança de seu Amado, e querendo ser achada fiel, se dirige a Cristo (representado por Salomão), dizendo: “Teve Salomão uma vinha em Baal-Homom; entregou-a a uns guardas, e cada um lhe trazia pelo seu fruto mil peças de prata” V.11. A interpretação deste versículo está na parábola dos Lavradores Maus. “Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha, cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país” Mt.21:33-41. Sabemos que Cristo, com seu próprio sangue, adquiriu um povo para si. A este povo, Ele entregou a responsabilidade para pregar o evangelho, e, em seguida, “foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus”, a fim de interceder em favor da sua Igreja, Mc.16:15,19; Hb.7:24-25. O Ap. Paulo, meditando sobre a nossa responsabilidade, disse: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” Ef.2:10. Estas boas obras são os nossos atos de obediência, executando a vontade revelada do nosso Senhor.

Em seguida, a Igreja, tendo assumido a sua responsabilidade, novamente se dirige a Cristo e promete: “A vinha que me pertence (a parte da minha responsabilidade) está ao meu dispor; tu, Ó Salomão terás mil ciclos”; de todo o meu coração me esforçarei para ser-lhe fiel na execução do meu ministério, V.12a. “Somos despenseiros dos mistérios de Deus. “Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel” 1 Co.4:1-2. É importante observar que o trabalhador é digno de seu salário, 1 Tm.5:18. E, em nosso texto, o dono recebe os seus mil ciclos, “e os que guardam o fruto dela (da vinha) duzentos” V.12b.

Agora, Cristo responde, dirigindo-se à sua Igreja. “Ó tu que habitas nos jardins, os companheiros são atentos para ouvir a tua voz; faze-me, pois, também ouvi-la” V.13. O cristão particular não vive isoladamente dos demais cristãos, ele habita nos jardins da Igreja organizada, cercado por companheiros, pessoas que têm a mesma fé e a mesma esperança. Em nossa vivência, fazemos, mutuamente, admoestações, comunicando palavras de edificação e conforto espiritual, aguardando o Dia da vinda do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, Hb.10:25. Os nossos companheiros estão atentos para ouvir a nossa voz, e, sendo assim, Cristo faz um apelo: “Faze-me, pois, também ouvi-la”. O nosso Amado quer que mantenhamos comunhão espiritual com Ele através da oração incessante, 1 Ts.5:17.

E, com este convite ecoando em seu coração, a Igreja encerra esta parte da sua comunhão com uma oração urgente: “Vem depressa, amado meu, faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela, que saltam sobre os montes aromáticos” V.14. E, no penúltimo versículo do Apocalipse, Cristo promete: “Certamente, venho sem demora”. E a Igreja responde com toda a ardência de um coração que transborda de amor: “Amém. Vem Senhor Jesus!” Ap.22:20.


Conclusão:

Terminamos a nossa exposição do Livro Cântico dos Cânticos, seguindo a mesma linha de interpretação dos Puritanos do século XVII. Como podemos falar do que agora sentimos em nosso coração? 

1) Agradecemos a Deus pelo Livro Cântico dos Cânticos e a sua mensagem tão elevada e sublime, que nos conduz a uma confiança maior na imutabilidade do amor de Cristo, apesar das nossas muitas negligências e falhas espirituais. 

2) Agradecemos a Deus porque podemos experimentar uma verdadeira comunhão espiritual com Cristo Jesus, na qual podemos ouvir as suas palavras de amor e encorajamento; e responder, derramando o nosso coração na sua presença, com amor e gratidão. 

3) Agradecemos a Deus pela certeza da salvação, podendo confessar: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”. 

4) Agradecemos a Deus pelos convites de Cristo. Ele sabe que temos a tendência de fugir para as “fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas escarpadas” em momentos de tristeza, por causa de imperfeições em nosso procedimento; contudo, Ele nos chama, pedindo: “Mostra-me o teu rosto, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce e o teu rosto amável”. 

5) Vamos usar toda a nossa diligência para “conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento para que sejamos tomados de toda a plenitude de Deus” Ef.3:19.  Amém.

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