quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

DEPOIS DA LEITURA


Leitura Bíblica: Cântico dos Cânticos 2:16-17

Introdução 

Nestes versículos, Cristo continua “detrás da nossa parede”, isto é, Ele não tem uma comunhão imediata e direta com a sua Igreja. Porém, Ele não se separou do seu povo deixando-o desamparado, pelo contrário, providenciou uma comunhão espiritual mediante a leitura de uma carta escrita (veja Cap. 2:10-15). A Igreja recebeu e leu esta comunicação com sofreguidão. A voz do seu Amado se ouviu através das palavras vivas desta epístola. O Ap. Paulo registrou a importância desta forma de orientação, dizendo: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino, foi escrito a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras tenhamos esperança” Rm.15:4. Não convém subestimar o poder e a influência da Palavra de Deus que temos agora em forma escrita. O Ap. Pedro faz uma comparação impressionante quando ele se refere à sua experiência como testemunha ocular da Transfiguração de Jesus Cristo. Naquele momento tão singular, Cristo “recebeu da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu, nós (Pedro, João e Tiago) a ouvimos, quando estávamos com Ele no Monte Santo”. Mas, apesar da felicidade incomparável de ouvir a voz do Deus vivo, o Apóstolo afirma que existe uma voz “tanto mais confirmada”, a Palavra divina escrita na Bíblia Sagrada. Na transfiguração, apenas três pessoas ouviram aquela voz, quando logo em seguida, tudo desapareceu, não deixando nenhum sinal do acontecimento. Por isso, a Palavra escrita é muito mais valiosa, porque Ela permanece, intacta e inalterável, para os povos do mundo inteiro. Por causa desta realidade, o Apóstolo acrescenta: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética (as Escrituras Sagradas), e fazeis bem em atendê-la, como uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação” 2 Pe.1:16-21. Por causa desta importância insubstituível, o Senhor deu a Moisés esta ordem: “Escreve estas palavras, porque, segundo o teor destas palavras, fiz aliança contigo e com Israel” Ex.34:27. Agora, tendo lido a carta que Cristo lhe entregou, a Igreja passa a descrever o efeito que esta leitura exerceu sobre a sua vida espiritual.

1. Renovou-se a Certeza da sua União com Cristo. 

“O meu Amado é meu, e eu sou dele” V.16. Tudo o que confessamos a respeito de Cristo é uma declaração de confiança no ensino das Escrituras Sagradas. “Visto que andamos por fé e não pelo que vemos”, ou sentimos, 2 Co.5:7. Quando nós lemos a Palavra de Deus, o Espírito Santo aplica as suas verdades à nossa vida. “O próprio Espírito testifica com o nosso Espírito que somos filhos de Deus” Rm.8:16. Ao testemunharmos: “O meu Amado é meu, e eu sou dele” é uma declaração que o Espírito Santo nos ensinou a fazer, porque esta confiança emana do ensino da Bíblia Sagrada. Esta confissão de que somos unidos a Cristo sugere as seguintes realidades:

a) É uma união espiritual, porém, verdadeira. Cristo a descreveu, dizendo: “Eu sou a videira, vós, os ramos”. Esta união é tão vital e necessária que Ele acrescentou: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam” Jo.15:5-6. O Ap. Paulo, reconhecendo a realidade desta união, descreveu-a, afirmando: “A nossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” Cl.3:3. Deus nos vê através das perfeições de seu Filho, Jesus Cristo. Ou, como ele continua dizendo em outro lugar: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e este viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” Gl.2:20. A vida espiritual do Apóstolo dependia da sua união vital com Cristo. 

b) É uma união através da qual recebemos as bênçãos do céu. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” Ef.1:3. Deus não tem nenhuma outra maneira para agir, senão pela exclusiva mediação de seu Filho, Jesus Cristo. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” Jo.1:3. “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste” Cl.1:15-17. Portanto, para que recebamos qualquer dádiva de Deus, é necessário que estejamos “em Cristo”, ou seja, unidos com Cristo. 

c) É uma união que garante a nossa santificação, “sem a qual ninguém verá o Senhor” Hb.12:14. O tema em Romanos 6:1-23 é a nossa santificação, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão. “Santificação é a obra da livre graça de Deus, a qual ele realiza em virtude da nossa união com Cristo” Breve Catecismo, 35. Esta união deve ser entendida em termos de uma co-participação. Se nós estamos unidos com Cristo, de necessidade, o seguimos espiritualmente, em suas experiências de morte, sepultamento e ressurreição; identificamo-nos com elas de tal forma que, quando Ele morreu, nós também morremos com Ele. Por que Cristo morreu? Ele morreu para o pecado, destruindo o seu poder maléfico. Portanto, unidos com Cristo, nós também morremos para o pecado, de tal forma que este perdeu o seu domínio sobre a nossa vida. O sepultamento de Cristo sugere, não apenas um rompimento definitivo com a sua vida terrena, mas, também, seu preparo para a ressurreição e para uma vida diferente daquela que Ele conheceu durante o seu ministério aqui na terra. Portanto, unidos com Cristo, nós também fomos sepultados com Ele, efetuando assim, uma separação decisiva da vida que tínhamos como filhos da desobediência. E, de modo semelhante, este sepultamento nos separou para a nossa regeneração, que é uma ressurreição espiritual, e uma vida diferente como filhos da obediência. Cristo ressuscitou dentre os mortos a fim de desfrutar da glória que Ele tinha, junto de seu Pai, antes que houvesse mundo, Jo. 17:5. Portanto, unidos com Cristo, nós também fomos ressuscitados com Ele, isto é, fomos regenerados, a fim de andarmos em novidade de vida. Qual é o efeito desta tríplice experiência com Cristo, em termos práticos e visíveis? Passamos a nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Resolvemos não deixar o pecado reinar em nosso corpo mortal, recusando obedecer às suas paixões. “Mas, graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração a forma de doutrina a que fostes entregues, e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça”. Apesar do potencial desta obra da graça de Deus, a santificação não é um ato instantâneo, como no caso da regeneração e da justificação, antes, é um processo na vida dos regenerados, pelo qual “o domínio de todo o corpo do pecado é destruído, as suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor” Confissão de Fé, 13:1. 

d) É uma união que permite acesso à presença de Deus. Cristo garantiu esta verdade para cada um de seus redimidos: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” Jo.15:7. Visto que Cristo é nosso, e nós somos dele, temos, nele, ousadia e acesso com confiança à presença de Deus. Por isso, o Apóstolo nos encoraja: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” Hb.4:16. Misericórdia e graça são as duas bênçãos que mais precisamos na vida cristã, a fim de não cairmos no desânimo. Necessitamos misericórdia, para que nossos muitos pecados e as nossas inumeráveis imperfeições, que maculam a totalidade do nosso procedimento, sejam perdoados; e, necessitamos graça, para nos sustentar na execução das nossas responsabilidades cristãs. Por causa das nossas constantes fraquezas, podemos sentir vergonha de nos apresentarmos perante o trono da graça para pedir socorro nos momentos de necessidade, por isso, somos exortados a praticar a nossa confiança em Cristo. “Porque não temos sumo-sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” Hb.4:15. A âncora da nossa alma, segura e firme, é Cristo, que nos amou e se entregou a si mesmo por nós, para que tenhamos esta confiança. Em Cristo, unidos com Ele, temos acesso à presença de Deus.

2. Descobriu onde Cristo Habita

“Ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Cristo é “O Lírio” e os membros particulares da Igreja Visível são os lírios, porque cada um é semelhante ao seu Salvador. “E, todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito 2 Co.3:18. Fomos predestinados para sermos “conformes à imagem de seu Filho” Rm.8:29. O Apóstolo, fazendo uma comparação entre o nosso estado natural e a vida que agora temos em Cristo Jesus, explicou: “E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial” 1 Co.15:49. Cristo se apresentou à Igreja em Éfeso como aquele que “anda no meio dos sete candeeiros”, que são as sete Igrejas que se encontram na Ásia, Ap.2:1. Apesar de nem sempre sentirmos a sua presença, Ele está no meio das suas Igrejas. “Ele apascenta o seu rebanho entre os lírios”, realizando a sua vontade através do ministério das Igrejas visíveis. Estas Congregações são compostas de cristãos que têm uma ação organizada, pois todos se unem na mesma fé e na mesma esperança. Qual é o propósito de Cristo ao andar no meio das suas Igrejas? Podemos descobrir algumas das razões quando estudamos as Cartas que Ele escreveu para as sete Igrejas da Ásia. Nada do que acontece nas Igrejas visíveis passa despercebido. Ele observa e toma conhecimento de todas as suas atividades, Apocalipse, capítulos 2 e 3.

a) Em cada uma das Cartas, encontram-se aspectos da auto-apresentação de Cristo, o Autor destas sete Comunicações. Ele é o Deus da Eternidade: “Eu sou o primeiro e o último”. Ele é o Messias que morreu pelos nossos pecados: “Estive morto”. Ele é o Vencedor que ressuscitou por causa da nossa justificação: “Eis que estou vivo pelos séculos dos séculos”. Ele é o Soberano que tem autoridade absoluta sobre o mundo invisível: “Tenho as chaves da morte e do inferno”. Ele é o Legislador que determina o que cada um dos seus servos deve fazer: “Escreve, pois, as coisas que viste, as que são e as que hão de acontecer depois destas”. Ele é o Pastor Supremo que segura em sua mão, tanto os pastores, como também, cada uma de suas Igrejas: “Quanto ao mistério das Sete estrelas que viste na minha mão direita e os sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os sete anjos (os mensageiros, ou, os responsáveis pela liderança das Igrejas) das sete Igrejas, e os sete candeeiros, são as sete Igrejas” Ap.1:17-20. 

b) Cristo tem palavras de encorajamento. “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança; a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rica) e a blasfêmia daqueles da sinagoga de Satanás; o teu amor, a tua fé, o teu serviço e a tua perseverança”. Este conhecimento que Cristo tem da nossa pessoa, bem como das nossas obras, deve nos encorajar para continuarmos firmes na fé e na prática destas mesmas obras, “sabendo que, no Senhor, o nosso trabalho não é vão” 1 Co.15:58. “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos”. Hb.6:10. 

c) Cristo tem palavras de condenação. “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor; a tolerância de ensinos imorais que seduzem os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos; as tuas obras não são íntegras na presença do meu Deus; e a jactância de auto-suficiência, pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma”. Estas condenações devem nos encher de terror, “pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” Rm.14:10-12. 

d) Cristo tem palavras de advertência. Ele não tolera a prática de irregularidades e de atos pecaminosos no meio das suas Igrejas. “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e removerei o teu candeeiro, caso não te arrependas”. A exortação para arrepender-se admite uma tolerância limitada, e, passando esta oportunidade, a sentença será executada. Quanto à mulher Jezabel, que assediava os cristãos em Tiatira com os seus ensinos perniciosos, Cristo disse: “Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição”, e logo passou a experimentar a ira divina, Ap.2:20-23. E ai da Igreja impenitente “O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” Hb.10:30-31. 

e) Cristo tem palavras de exortação. “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas”. O Espírito Santo sempre fala através de palavras de encorajamento, de condenação, de advertência, de exortação e de promessa contidas nas Escrituras Sagradas. O Ap. Tiago registrou esta importante observação: “Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não como ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” Tg.1:24. Cristo ensinou que aquele que ouve e pratica as palavras das Escrituras Sagradas, é homem prudente; porém, aquele que as ouve, mas não as pratica, é insensato e passível de grande ruína, Mt.7:24-27. A diferença entre estes dois ouvintes é que o prudente usou a fé e acreditou na mensagem, enquanto que o insensato deixou a sua incredulidade arruinar a sua vida, Hb.4:2. 

f) Cristo tem palavras de promessa. “Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus; libertação do dano da segunda morte; um nome novo; autoridade sobre as nações e ainda a estrela da manhã; reconhecimento favorável diante de Deus e de seus anjos; um lugar proeminente no santuário de Deus; e, o privilégio de se assentar com Cristo nos lugares celestiais”. Qual é uma das razões destas muitas e preciosas promessas? “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do Espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” 2 Co.7:1.

3. Recebeu a Esperança de um Novo Dia

“Antes que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, Amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho das gazelas sobre os montes escabrosos”. Desde os tempos do Antigo Testamento, a verdadeira Igreja tem vivido como se estivesse nas sombras da noite, sempre cercada por todo tipo de perigos, físicos e espirituais. Contudo, paralelamente, Deus tem sustentado o seu povo com “as suas preciosas e mui grandes promessas” 2 Pe. 1:4, garantindo-lhes um novo dia, uma vida incomparavelmente melhor. O Ap. Paulo, descrevendo esta esperança, disse: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” Rm.8:18. A Igreja continua aguardando o pleno cumprimento destas promessas, as quais se baseiam nas profecias da vinda de Cristo, o prometido Messias. Ele veio pela primeira vez como “o sol nascente das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” Lc.1:78-79. Mas, também, apareceu investido com uma missão específica: aquela de adquirir a redenção do povo que o Pai lhe confiou, Ele mesmo pagando o resgate, dando a sua própria vida em morte substitutiva sobre a cruz do Calvário. Sempre louvamos “aquele que nos amou, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes (pessoas que servem na presença de Deus) para o seu Deus e Pai, a Ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém”. Ap.1:5-6. É muito edificante cantar:

“Remido a preço tão real - o sangue do Senhor
Com que pagar eu poderei tal graça, tal amor?
Quando Ele a mim, um pecador, se digna de aceitar,
E me levar com seus fiéis ao santo e eterno lar?”HNC.43.

Na consumação do século, Cristo voltará mais uma vez; primeiramente, para julgar os vivos e os mortos, 2 Tm.4:1; e, em segundo lugar, para receber aqueles que Ele redimiu da terra, que assim, estarão para sempre com o Senhor, 1 Ts.4:17. À luz destas verdades, somos exortados a vivermos, “no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” Tt.2:12-13.

a) As sombras do momento. Quais são estas sombras, estas realidades que tendem a assombrar a nossa espiritualidade? Podemos mencionar aqueles momentos quando perdemos a certeza da presença de Deus conosco. O Salmista estava experimentando o peso desta sombra quando clamou: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?” Sl.13:1. O resplendor do rosto do Senhor significa a presença da sua misericórdia sustentando o seu povo. E, quando a sensibilidade deste resplendor está faltando, a alma sente um desespero insuportável, por isso, na sua aflição, clamou ao Senhor: “Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia” Sl.31:16. Precisamos desta presença para que possamos suportar as angústias desta vida. Os sumos-sacerdotes foram instruídos a pronunciar estas palavras ao povo congregado: “O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz”. E qual a razão destas palavras? “Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei” Nm.6:24-27. 

Existem muitos outros tipos de sombras espirituais que nos deixam perplexos. Por que Deus, o Deus de toda misericórdia, permite que sejamos afligidos com tantos acontecimentos negativos? Embora não tenhamos respostas fáceis para tudo o que acontece, podemos nos encorajar, relembrando que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” Rm.8. Deus usa estas circunstâncias para provocar uma reação em nós, para testar a sinceridade da nossa fé. Abraão demonstrou a sua lealdade quando estava pronto para obedecer oferecendo Isaque em holocausto. E Deus o elogiou, dizendo: “Agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” Gn.22:1-19. O povo de Israel experimentou todo tipo de adversidades, a fim de serem provados, para saber o que estava em seu coração, se guardariam ou não os mandamentos do Senhor, Dt.8:2-3. O Ap. Paulo tinha que suportar um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para o esbofetear, a fim de que não se exaltasse, 2 Co.12:7. E, finalmente, devemos lembrar que “o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe (...). Toda disciplina, com efeito, no momento, não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza, ao depois, entretanto, produz o fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça” Hb.12:6,11. O Ap. Tiago nos encorajou, dizendo: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” Tg.1:2-3. O que devemos fazer nestes tempos difíceis? “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará” Sl.37:5.

b) O anseio para o futuro. Tantas vezes a Igreja suspira: “Volta, Amado meu”. Por que ansiamos pela Segunda Vinda de Jesus Cristo? No momento, passamos por aflições, porém, naquele Dia, seremos confortados, pois o próprio Amado enxugará dos nossos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas (as tribulações desta vida) terão passado. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas, Ap.21:4-5. Nesta vida, sentimos a vergonha das nossas muitas imperfeições. O Ap. Paulo, sentindo esta contradição, confessou: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto” Rm.7:15. Porém, quando o nosso Amado voltar, seremos ajuntados àqueles “justos aperfeiçoados”. Hb.12:23. Um pouco antes de subir para o céu, Cristo nos deixou esta esperança: “Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” Jo.14:2-3. Naquele Dia, estaremos admirando a Pessoa do nosso Amado Salvador. “Os seus servos o servirão, contemplando a sua face, e na sua fronte está o nome dele” Ap.22:3-4. Depois de esclarecer alguns aspectos relacionados à Segunda Vinda do Senhor, o Apóstolo acrescentou: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” 1 Ts.4:13-18.

c) O pedido de pressa. “Volta, Amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho das gazelas”. Estes animais são notórios pela sua velocidade ao correr; assim, desejamos que Cristo use uma pressa semelhante para voltar e receber a sua Igreja em glória. O Ap. Pedro usou uma frase sugestiva quando escreveu: “Esperando e apressando a vinda do Dia de Deus” 2 Pe.3:12. Em que sentido podemos apressar a vinda deste Dia?

I) Pela oração. Quando oramos, esperamos que a resposta venha logo. Cristo ensinou seus discípulos a orar, dizendo: “Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia; perdoa-nos os nossos pecados” Lc.11:2-4. Como não podemos tolerar que o seu nome seja blasfemado; assim, não podemos suportar uma tardança na providência do pão cotidiano; nem uma demora na bem-aventurança do perdão dos nossos pecados, pois, a aflição de uma consciência sobrecarregada pela culpa pode destruir a nossa esperança da salvação. E, da mesma forma, não podemos ficar indiferentes quanto ao tempo da Vinda de Cristo. Tudo requer uma pressa. Anelamos e oramos para que o Dia se apresse, para que vejamos a glória do nosso Senhor Jesus Cristo, que ressuscitou dentre os mortos e agora vive pelos séculos dos séculos. 

II) Pela obediência. Evidentemente, a evangelização do mundo inteiro está inseparavelmente identificada com a vinda de Cristo, como Ele mesmo afirmou: “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” Mt.24:14. Portanto, a nossa obediência em pregar o evangelho está associada com o tempo da prometida vinda do Senhor. Se nós realmente “amamos a sua vinda”, a nossa obediência certamente apressará a chegada deste Dia. 

III) Pela esperança. Apesar das coisas boas que ainda existem nesse mundo pecador, aguardamos, ansiosamente, algo melhor, pois sabemos que a vida nos céus, com o Amado, será incomparavelmente melhor. O Ap. Paulo disse que a “experiência produz esperança”, e, em seguida, acrescentou: “Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos” Rm.5:4; 8:25.




Conclusão 

Em nossa leitura, a Igreja tinha acabado de ler a carta que Cristo lhe entregara. Pela leitura desta, foi-lhe confirmada sua união espiritual com Cristo; descobriu onde Cristo pode ser achado; e recebeu a esperança de um novo Dia. “Nós, porém segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” 2 Pe.3:13. Não convém negligenciar a leitura diária das Escrituras Sagradas, pois delas recebemos a tão necessária direção espiritual que nos capacita a caminhar, confiadamente, segundo a santa vontade de Deus. “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” Rm.15:14. A nossa oração deve ser:

“Concede inteligência: Queremos perceber
O que, Senhor, na Bíblia, mandaste-nos dizer.
Adestra-nos, Mestre, com teu Verbo eficaz:
Instrui e repreende, destrói o que é falaz: Amém”. HNC.371.

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